sexta-feira, 25 de junho de 2010

Durban, ponte do Atlântico


por Luciano Melo
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Quis o fado que Portugal e Brasil cruzassem seus caminhos na litorânea Durban, avistada pela expedição "lusíada" de Vasco da Gama em 1497 e cidade na qual Fernando Pessoa morou dos dez aos dezessete anos, acompanhando a família na estadia de cônsul do padastro João Miguel Rosa, recém-casado com a mãe do poeta, Maria Madalena Pinheiro Nogueira Pessoa. A cerimônia matrimonial dos dois ocorreu por procuração, pois o noivo já residia em solo africano, exercendo suas funções no consulado. Henrique Rosa, irmão de João Miguel, substituiu o irmão no casamento.

Pessoa, então com oito anos, é matriculado em 1896 no convento de West Street, onde aprende as primeiras lições da língua anglo-saxônica. Dois anos mais tarde, na High School, já escreve com fluência poesias em francês. Em 1903, aos treze, é profundo conhecedor de Byron, Milton, Shelley, Keats e Edgar Allan Poe. Neste ano escreve ensaio científico para exame de admissão na Universidade do Cabo. Como reconhecimento ao mérito, recebe o Prêmio Rainha Vitória.
No entanto, se há um abismo de mistérios entre o céu e a terra em nossa vã filosofia, reservou o fado que sua vaga fosse preterida a um esforçado estudante inglês de pele rosada.
Assim quiseram os Deuses.
Em 1905, matricula-se no Curso Superior de Letras da Universidade de Lisboa. Conhece a fundo Baudelaire e, principalmente, Cesário Verde. Abandona o curso dois anos mais tarde, após uma greve de estudantes contrários às medidas do reitor João Franco.
Mas para nunca mais a língua portuguesa.
Quiseram assim os Deuses e o fado.
Obrigado, querida Durban!
Durban, hoje ponte do Atlântico entre o Criador e a Criatura!

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