domingo, 20 de junho de 2010

Dia de jogo

por Claudio Domingos Fernandes
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Numa parede ao fundo do bar se encontra emoldurados o pôster da seleção de 82, uma camisa da seleção brasileira número 10 e uma foto de um grupo de pirralhos postados como jogadores de futebol. Entre as molduras uma gasta bola de capotão... Gilberto ganhara uma bola de borracha dos avôs. Nos fins de tarde, depois da escola, jogávamos na rua de cascalho. Um dia apanhamos as enxadas de nossos pais e limpamos um pedaço de terreno próximo de nossas casas. Depois, com varas de bambus que nossas mães utilizavam para suspender roupas no varal improvisamos as traves. Eu sempre era um dos últimos a serem escolhidos e geralmente me colocavam no gol. Mas de todas as brincadeiras de infância, apenas policia e ladrão superava o gosto por futebol. Entre nós, o mais velho deveria ter 11 anos. A bola de Gilberto, de pelada em pelada, consumiu-se e num chute do Rodrigo rasgou-se em duas. Cabisbaixos, sentados à beira de nosso “Camp Nou”, notamos uma senhora transportando num carrinho de mão garrafas, caixas de papelão e vasilhas de alumínio. Foi então que nos veio idéia de juntarmos “ferro velho” e compramos uma bola nova de capotão. Primeiro, então, fizemos uma limpa em nossas casas. Ao final do dia, o que tínhamos mal dava para comprar uma Dente de Leite. Resolvemos, então, que no dia seguinte ao virmos da escola, vasculharíamos as lixeiras das casas,e recolheríamos tudo o que fosse útil à nossa empreitada . Aquele que mais recolhesse “ferro velho” teria o direito de ficar primeiro com a bola por uma semana. Zico (como chamávamos o Pedro Augusto) teve a idéia de ir procurar num terreno abandonado que as pessoas faziam de depósito de lixo. Na hora em que marcamos para contabilizar o que havíamos recolhido ele não apareceu, mas não demos caso. Somente no dia seguinte, quando a professora quis saber se alguém o havia visto, pois a mãe estava desesperada à sua procura é que lembramos dele ter comentado, no recreio, do tal terreno. O fato é que Zico, entusiasmado e distraído com o que recolhera, acabou por cair em um poço. O acidente resultou a Zico três meses de perna engessada. Nós compramos a bola e com o que sobrou, demos a ele um pôster da seleção de 1982 e uma camisa com o número dez. Nosso Camp Nou tornou-se uma auto-mecânica que o Gilberto batizou de Auto Mecânica “Mestre Telê”. E o terreno baldio é hoje a “Toca do Zico”, onde nos encontramos toda vez que a Seleção joga.

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