domingo, 21 de novembro de 2010

A periferia e a camisa 10

Por Ed Limas
Na periferia o povo ouve rock, não necessariamente rock, mas samba rock! Na periferia se come milho no pratinho e o churrasco pode ser literalmente de gato.
Na periferia a maioria é timão, mas tem tricolor, Santos, Palmeiras e mengão, na periferia o shortinho da menina é mais curto, tem piercing na barriga e malicia no olhar, na periferia o esporte é só futebol, se joga descalço, na quadra, na várzea, na rua... seja de dia e com luz do luar.
Na periferia táxi é lotação, na periferia toda música tem que ter refrão, na periferia todo mundo ajuda a encher a lage e depois o churrasco vai até mais tarde.
A periferia não é só cliche, só chegando lá pra entender, tem filosofo de boteco, garanhão de forró, rainha do funk e até punk sofrido. Assim é a periferia, onde os idolos são mais idolos, onde se encontra grafites com a cara do Senna, Ronaldo e Pelé, periferia onde se busca a fé na Igreja de crente e no candonblé.
O jovem na luta, mas as vezes ele perde, se vê cercado por drogas... Esculacho da polícia ou ilusão e a prisão, ruga na cara do pai e sofrimento da mãe... Periferia!!!
Periferia que intectual tenta entender, mas o povo só quer emprego, conforto e abrigo, periferia é "NóIS".
Tudo muda na periferia, tudo se transforma, mas o futebol continua forte e sempre será!!!
Seu Cipriano esta no boteco, faz zigue zague na rua, cambaleia e cai, levanta constrangido, mas feliz, pois sua camisa do Santos continua limpa! A camisa DEZ!!!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Paul MacCartney e o futebol


por Luciano Melo

Um beatle está entre nós. Parece bobagem, mas hoje Sir Paul divide conosco este mesmo ar embolorado e modorrento de final de tarde. Numa destas, na última quarta-feira, em meio a telefonemas e vodka com soda, há quem jure que MacCartney não desgrudou os olhos do clássico de Wembley, Inglaterra x França. Como onze em cada dez ingleses, ele é fanático por futebol.
Mas muita gente discorda. Brian Epstein, primeiro empresário dos Beatles, proibiu que o grupo declarasse em público seu time de coração, temendo que isso afastasse ou dividisse os fãs – só para se ter ideia da importância do futebol na Inglaterra. Por isso, muitas dúvidas surgem quando este assunto vem à tona: para quem os Beatles torciam?
Como não pretendo esgotar a discussão, minha intenção é apenas acalorar o debate, pôr mais uma dose de soda nesta vodka. Ou seria o contrário?
Nos anos 70, Paul MacCartney foi visto várias vezes em Anfield Road, estádio do Liverpool, acompanhando as partidas dos reds. Durante a década, o Liverpool FC foi uma verdadeira máquina de futebol: cinco títulos ingleses e bicampeão europeu. Paul aproveitou o embalo futebolístico dos reds na Europa e associou o clube à cidade natal da ex-banda, tentando provocar uma “febre beatlemaníaca” na carreira solo. Genial, não?
Contudo, oportunismos à parte, Paul MacCartney, influenciado pelo pai, é apaixonado pelo Everton FC, que diante do Liverpool FC constitui a maior rivalidade da cidade. Todo blues que se preza, tem a gravação não-oficial de Paul cantando o hino do Everton FC.
E quem explica o rosto de Albert Stubbins, astro do meio-campo do Liverpool FC, perdido entre celebridades na capa de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band? John Lennon. Em 2009, Pete Best, o baterista que perdeu o posto para Ringo Starr durante as gravações de Please Please Me, afirmou que Lennon, quando criança, tinha o sonho de atuar pelos reds. Era difícil não encontrar Lennon correndo atrás de uma bola pelas ruas esburacadas de Liverpool. Emblemática, diante disso tudo, a capa de Walls and Bridges (1974), pintada por Lennon em 1952, aos onze anos. Brian Phillips, biógrafo do ex-beatle, remete a pintura à decisão da Copa da Inglaterra de... 52, entre Newcastle e Arsenal. Interessante, não?

Já Ringo Starr é Arsenal FC, desde os tempos em que o padrasto viajava com o garoto para Londres e se juntava com os fanáticos gunners. O jovem Starkey sofria mesmo quando o Arsenal vinha até Liverpool enfrentar o Everton no Goodison Park, estádio dos blues. Fora ele e o padrasto, toda a família era torcedora do Everton.
E George Harrison? Ao que consta, não ligava para futebol. Era apaixonado por automobilismo. Quando questionado por sua paixão “clubística”, saía-se muito bem: “Em Liverpool, existem três times. Eu torço pelo terceiro”.

Para não dizer que não falei das flores: nosso quinto beatle é Best, mas não Pete, mas George.

George Best é Gênio da Raça. E é Morte ao Futebol Moderno.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Gênio da raça para Baco!!!!!

Por Ed Limas

Vou falar do ser que encarnou em gênios que curtiram a vida como ela deve ser curtida, sem limites e com alegria.
Mas o caminho da loucura termina na nostalgia, termina na solidão, na doença que é a ante sala da morte.
Falo dos loucos do futebol, dos insanos do rock n roll, de poetas, putas e loosers de plantão...
Baco o deus do sexo e bebedeira, falo dele, ser que se manifestou em George Best, Garrincha, Quarentinha e tantos outros no futebol, assim como buscou atanazar milhares de "bluesmans" e "rockers", tais quais Brian Jones dos Stones e Keith Moon do The Who!!!
As bacantes, banhos de vinho e gritos tribais anunciam que onde tem arte, mora a loucura!
Um brinde à loucura, ela é a razão abstrata!!!!


Ps. George Best afirmou que gastou muito dinheiro com carros, bebidas e mulheres, o resto ele desperdiçou... Craque rocker e louco, foi considerado o quinto beatle, brilhou no Manchester United e é norte irlândes.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mike Tyson no Animal Planet



por Luciano Melo
*
Li nesta semana que o canal americano Animal Planet pretende lançar, nos próximos meses, um programa sobre o convívio humano com aves. Ora, o leitor perguntará, o que há de novidade nisso? Nada, meu caro, a não ser pela sondagem ao futuro apresentador:
Mike Tyson.
Natural, diria, depois assistir ao primoroso Tyson, de James Toback, documentário que causou frisson na última Mostra de Cinema de São Paulo. Em tom emocionado, Iron Mike deixa a voz embargada sumir várias vezes ao retomar sua trajetória de vida, principalmente ao falar de Cus D’Amato, seu mentor, o homem que forjou uma das duas maiores lendas da história do pugilismo. Ao lado, claro, de Mohamed Ali. Só para lembrar, Tyson não cita o trágico acidente com filha Exodus, então com apenas quatro anos, asfixiada acidentalmente com a correia de uma esteira, pois o documentário foi realizado meses antes ao fatídico episódio.
Toback faz o que nos acostumamos a ver no Ensaio, da TV Cultura. Tal qual Fernando Faro, o próprio diretor se encarrega na condução da entrevista, mas ocultando-se das lentes. Deste modo, o que temos é tão-somente o objeto do assunto - o entrevistado, fisgado em reações faciais, olhares desconexos ou agitações labiais. Mas são nos olhos o alvo da câmera reveladora de Toback: o diretor parece assumir a estratégia tysoniana intimidação ao oponente “tête-à-tête”. Em várias tomadas, durante a entrevista, diferentes ângulos do rosto do ex-boxeador dão a exata medida confessional da película: nada pode escapar ao espectador.
Em raras exceções de comoção, a voz infantilizada do campeão não para um instante. E aí se revela um Tyson escondido sob a carcaça de punhos devastadores. Diferente do que se possa imaginar, não se vitimiza em nada, como nas 38 passagens por internatos antes dos 16 anos, nas acusações (infundadas?) de estupro ou nos três anos na prisão. Apenas lamenta a falta de Cus D’Amato, o tutor. Como o próprio Tyson afirma, sua vida se divide entre antes e depois do título mundial de 1986. Para ele, a dívida com D’Amato, morto em 1985, estava paga. Bem como o período mais feliz da vida, ao seu lado. O que veio a seguir foram as consequências.
O início da carreira amadora foi meteórico. Os títulos de campeão olímpico de juniores em 81 e 82 e as medalhas de ouro nos sub-19 de 83 e 84 credenciavam Tyson como a principal estrela do boxe americano para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Mas uma “incrível” derrota para Henry Tillman o privou da chance de um ouro olímpico, o que acelerou o ingresso no profissionalismo, já no ano seguinte. Em 1987, enfrentou o mesmo Tillmann numa espécie de “revanche”, e não levou mais de trinta segundos para nocauteá-lo, ainda no primeiro assalto.
A cena relatada a seguir é cinematográfica. Em 22 de novembro de 1986, o dia do “antes e depois” na vida de Tyson, o jovem de 20 anos sofria de dores por conta de uma gonorreia contraída com prostitutas. Tremia e suava em bicas com uma febre de 34°. Mas estava no ringue, disputando o título do Conselho Mundial de Boxe, por Cus D’Amato. Até então, só por ele. E pelo homem que trespassou as cordas para cumprimentá-lo antes do combate.
Uma outra surpresa que Mike Tyson revela no documentário é seu profundo conhecimento de boxe. Enquanto morou na casa de D’Amato, assistiu diariamente a centenas de combates das décadas de 20, 30 e 40. Sabe de cor o cartel de Jack Johnson, George Dixon e Jack Dempsey. Sugou a “pegada” de Rocky Marciano, o olhar compenetrado de Jake LaMotta e a cintura de Joe Louis. Tyson pode travar uma discussão de horas entre Joe Frazer e George Foreman com uma naturalidade de um profundo especialista. Guardadas as proporções, está como Scorsese para o cinema.
Mas o homem que vinha ao seu ouvido naquele ringue era de quem sugara a personalidade: Mohamed Ali. O maior de todos. O mito. Um deus.
Como disse, a descrição é cinematográfica. Enquanto fala, as imagens mostram Ali se aproximando de Tyson, balbuciando alguma coisa. Sabemos hoje o que era: “Faça isso por mim.” Anos antes, em 1981, para saldar dívidas estratosféricas, Mohamed Ali encerrou a carreira contra o promissor Trevor Berbick, perdendo por decisão unânime dos juízes. O mesmo algoz, campeão do Conselho Mundial de Boxe, enfrentaria o prodígio do Brooklin, Mike Tyson.
E Tyson dedicou a luta para Mohamed Ali, nocauteando Berbick no 2° assalto. E tornou-se o campeão mundial dos pesos-pesados mais jovem de toda a história do boxe.
O resto da história, todos nós conhecemos.
Como esta luta, a cereja do bolo do documentário são os arquivos das lutas. Neles reparamos os punhos demolidores de Tyson – no qual ele insiste em todo o documentário: eram apenas técnica; o cruzado característico na nuca dos oponentes que desmanchava-os, derretia-os na lona; os olhos que atordoavam a presa, transformando o ringue numa jaula; ou seja, a história do boxe sintetizada em um único homem.
As imagens de arquivo são espetaculares. Lutas amadoras, pré-olímpicas, na casa e carregando o caixão de D’Amato, o início no profissionalismo, as épicas lutas contra Holyfield e Lennox Lewis e a assombrosa derrota para James Buster Douglas, no Japão. E o mesmo friozinho na barriga quando Tyson entrava no ginásio, desprovido do macacão, pronto para o combate? As músicas que ouvia nas ruas do Bronx eram escolhidas como pano de fundo para a aparição triunfal. Segundo ele, já se ganhava uma luta ali.
Ao contrário do que muitos acreditam, Tyson não era apenas um troglodita especializado em esmurrar adversários. Conhece e respeita a história de seu esporte como poucos, o que apenas comprova sua grandiosidade. Em 11 de junho de 2005, completamente fora de forma, foi nocauteado pelo inexpressivo irlandês Kevin McBride. Ainda no ringue, proferiu um dos maiores discursos da história do esporte. Vagamente, foi mais ou menos assim: ”Não posso seguir com isto. Não posso seguir me mentindo. Não vou seguir arruinando este esporte. Respeito a história do boxe e de quem a escreveu. Não posso manchá-la. Isso foi o que melhor fiz na vida e quero passar este ensinamento aos meus filhos. Só fiz a luta de hoje por dinheiro, não por paixão. E isso não se faz jamais na vida. É simplesmente meu final. Terminou-se".
*
Ah, e o Animal Planet? Quando menino, Tyson era fissurado por pombos, como é até hoje pela vida dos bípedes de penas. Chegou a cometer pequenos delitos para comprar as aves que “trazem doenças” e que vivem de migalhas ofertadas. Tal qual a vida de Mike Tyson nas ruas do Bronx. Quiçá por isso se identificava tanto com pássaros. Numa certa feita, durante uma rinha com gangues inimigas, alguém decepou a cabeça de seu pombo e jogou-a em seus pés. Com doze anos, sem nunca ter brigado com ninguém, Tyson sentiu a ira correr pelas veias do corpo e alojar-se nas mãos. Socou ferozmente o garoto que assassinara seu pombo. E conheceu a si próprio.