domingo, 27 de junho de 2010

O homem de Cabobló

Mais triste que um cantor de blues, meu vizinho britânico nascido em Cabobló, que atende pela alcunha José Cipriano se vê triste sem o english team na copa. Eis que a Alemanha jogou um futebol bonito, alá Holanda e Brasil nos aúreos tempos de outrora e eliminou da copa o time da rainha.
Cipriano com sua camisa do "Lampadi" esta triste, mais inglês do qualquer inglês, vocifera contra a arbitragem e profetiza: " Em 2014 vai dar pra nóis".
Porém Cipriano se naturalizou de maneira relâmpago e após a eliminação britânica foi visto com uma camisa da seleção de Gana.
"Olhe seu moço agora torço pros negão", assegura Cipriano.~

Ed Limas

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Durban, ponte do Atlântico


por Luciano Melo
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Quis o fado que Portugal e Brasil cruzassem seus caminhos na litorânea Durban, avistada pela expedição "lusíada" de Vasco da Gama em 1497 e cidade na qual Fernando Pessoa morou dos dez aos dezessete anos, acompanhando a família na estadia de cônsul do padastro João Miguel Rosa, recém-casado com a mãe do poeta, Maria Madalena Pinheiro Nogueira Pessoa. A cerimônia matrimonial dos dois ocorreu por procuração, pois o noivo já residia em solo africano, exercendo suas funções no consulado. Henrique Rosa, irmão de João Miguel, substituiu o irmão no casamento.

Pessoa, então com oito anos, é matriculado em 1896 no convento de West Street, onde aprende as primeiras lições da língua anglo-saxônica. Dois anos mais tarde, na High School, já escreve com fluência poesias em francês. Em 1903, aos treze, é profundo conhecedor de Byron, Milton, Shelley, Keats e Edgar Allan Poe. Neste ano escreve ensaio científico para exame de admissão na Universidade do Cabo. Como reconhecimento ao mérito, recebe o Prêmio Rainha Vitória.
No entanto, se há um abismo de mistérios entre o céu e a terra em nossa vã filosofia, reservou o fado que sua vaga fosse preterida a um esforçado estudante inglês de pele rosada.
Assim quiseram os Deuses.
Em 1905, matricula-se no Curso Superior de Letras da Universidade de Lisboa. Conhece a fundo Baudelaire e, principalmente, Cesário Verde. Abandona o curso dois anos mais tarde, após uma greve de estudantes contrários às medidas do reitor João Franco.
Mas para nunca mais a língua portuguesa.
Quiseram assim os Deuses e o fado.
Obrigado, querida Durban!
Durban, hoje ponte do Atlântico entre o Criador e a Criatura!

domingo, 20 de junho de 2010

Dia de jogo

por Claudio Domingos Fernandes
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Numa parede ao fundo do bar se encontra emoldurados o pôster da seleção de 82, uma camisa da seleção brasileira número 10 e uma foto de um grupo de pirralhos postados como jogadores de futebol. Entre as molduras uma gasta bola de capotão... Gilberto ganhara uma bola de borracha dos avôs. Nos fins de tarde, depois da escola, jogávamos na rua de cascalho. Um dia apanhamos as enxadas de nossos pais e limpamos um pedaço de terreno próximo de nossas casas. Depois, com varas de bambus que nossas mães utilizavam para suspender roupas no varal improvisamos as traves. Eu sempre era um dos últimos a serem escolhidos e geralmente me colocavam no gol. Mas de todas as brincadeiras de infância, apenas policia e ladrão superava o gosto por futebol. Entre nós, o mais velho deveria ter 11 anos. A bola de Gilberto, de pelada em pelada, consumiu-se e num chute do Rodrigo rasgou-se em duas. Cabisbaixos, sentados à beira de nosso “Camp Nou”, notamos uma senhora transportando num carrinho de mão garrafas, caixas de papelão e vasilhas de alumínio. Foi então que nos veio idéia de juntarmos “ferro velho” e compramos uma bola nova de capotão. Primeiro, então, fizemos uma limpa em nossas casas. Ao final do dia, o que tínhamos mal dava para comprar uma Dente de Leite. Resolvemos, então, que no dia seguinte ao virmos da escola, vasculharíamos as lixeiras das casas,e recolheríamos tudo o que fosse útil à nossa empreitada . Aquele que mais recolhesse “ferro velho” teria o direito de ficar primeiro com a bola por uma semana. Zico (como chamávamos o Pedro Augusto) teve a idéia de ir procurar num terreno abandonado que as pessoas faziam de depósito de lixo. Na hora em que marcamos para contabilizar o que havíamos recolhido ele não apareceu, mas não demos caso. Somente no dia seguinte, quando a professora quis saber se alguém o havia visto, pois a mãe estava desesperada à sua procura é que lembramos dele ter comentado, no recreio, do tal terreno. O fato é que Zico, entusiasmado e distraído com o que recolhera, acabou por cair em um poço. O acidente resultou a Zico três meses de perna engessada. Nós compramos a bola e com o que sobrou, demos a ele um pôster da seleção de 1982 e uma camisa com o número dez. Nosso Camp Nou tornou-se uma auto-mecânica que o Gilberto batizou de Auto Mecânica “Mestre Telê”. E o terreno baldio é hoje a “Toca do Zico”, onde nos encontramos toda vez que a Seleção joga.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Lágrimas de Jong

Por Ed Limas
Troféu gênio da raça na copa

Lágrimas de Jong

Jong Tae-Se foi protagonista do momento mais arrepiante e bonito da Copa do Mundo até agora!
O atacante da Coréia do Norte ao ouvir o hino da pátria que escolheu ( nosso herói nasceu no Japão ) derramou lágrimas e emocionou. É morte ao futebol moderno, isto é ser amador no sentido literal da palavra, palavra esta que deriva de amor. Jong Tae-Se ama o que faz!!!
A Coréia do Norte é o do tipo do país que não possui revistas masculinas amostra nas bancas, trata-se de uma pátria que se diz comunista, porém sabemos que é uma ditadura mesmo!
Em uma copa onde o marketing se faz presente em tudo, enclusive na bola, haja vista as declarações de jogadores patrocinados pela Nike contrários a bola Jabulani da Adidas, ver alguém derramar lágrimas ao ouvir um hino nacional nos mostra que nem tudo esta perdido.
Fiquei feliz ao ver essas lágrimas, até agora o craque da copa é Jong Tae-Se! Não prego o patriotismo piegas de Galvão Bueno ( Cala a boca Galvão ), mas prego e procuro o futebol poesia.
A poesia aparece raramente e já deu o ar da graça em várias copas, seja no gol de Paulo Roberto Falcão contra a Itália em 1982 ou na fúria de Maradona ao comemorar seu derradeiro gol em copas em 1994 contra a Grécia. Continuo a procura da poesia no futebol, com certeza esta copa nos apresentará momentos poéticos e o craque coreano Jong me brindou com suas lágrimas ao ouvir seu hino, o música de sua pátria.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Para quem Gardel torcerá?


por Luciano Melo
O maior cantor do tango argentino de todos os tempos... não nasceu na Argentina. Para falar a verdade, ninguém sabe, ou melhor, ninguém quer saber. Os registros discordam: há os que afirmam que Carlos Gardel nascera em Tacuarembó, Uruguai; outros juram que o tangueiro veio ao mundo em Toulouse, na França. Seja como for, o próprio Gardel saía com essa, quando perguntado sobre seu local de nascimento: “Nasci com dois anos e meio em Buenos Aires”.
E em dia de França x Uruguai debutando o calendário da Copa da África, fico a pensar para quem Gardel gastará parcas horas de sua eternidade, roendo as unhas em favor da suposta terra de seu berço? Não sei, mas um episódio pode elucidar.
Em solo francês, a América descobriu a Europa em 1924, durante as Olimpíadas de Paris. O time uruguaio foi o primeiro selecionado americano a cruzar o Atlântico e disputa uma peleja no Velho Continente. O primeiro jogo foi emblemático: a bandeira içada ao contrário, com o sol dourado de cabeça para baixo, despertou a fúria patriótica da celeste. A vítima foi a Iugoslávia, em impiedosos 7 a 0. O resultado final do torneio: Uruguai campeão olímpico de futebol. Os franceses nunca tinham visto um negro jogando futebol e Andrade, de estilo elegante, foi chamado pelo público francês de “Maravilha Negra”. Quatro anos depois, em 1928, Olimpíadas de Amsterdam, na Holanda. A máquina uruguaia destroça a Argentina na final – como faria dois anos depois, na primeira Copa do Mundo – e se torna bi-campeã olímpica. Estava eternizada a Celeste Olímpica.
Reza a lenda que na concentração argentina, num hotelzinho chinfrim do subúrbio de Amsterdam, o grande Carlos Gardel apresentou-se na noite anterior à final olímpica para saudar o “escrete” argentino, já campeão de favas contadas. Cantou tristemente Dandy, um tango rasgado que tratava das desventuras de um homem que, açoitado por uma mulher que não o quer mais, perambula e se arrasta pela vida, seguindo a sina de um derrotado. Coincidência? Dois anos depois, às vésperas da final da Copa contra o mesmo Uruguai, num hotelzinho chinfrim de Montevidéu, Carlos Gardel reaparece na concentração argentina para homenagear o selecionado. Adivinhe, caro leitor, cara leitora, qual canção Gardel declamou?
Em 34 e 38, as Copas do Mundo ficaram em solo europeu, na Itália e na França, respectivamente. O mundo estava sob o preâmbulo da fatídica Guerra Mundial e o Velho Continente dominado por regimes autoritários, como o nazismo na Alemanha de Hitler. A “ferro e fogo”, a Itália fascista de Mussolini venceu os dois torneios, sem a participação da celeste olímpica. Os franceses, mais preocupados no domínio de terras africanas, liderados pelo general Charles de Gaulle, “dividiram” a África em duas Franças: a islâmica, (Marrocos, Tunísia e Argélia); e a negra (Costa do Marfim, Senegal, Camarões etc.)
Em razão das invasões na África, quando a Copa do Mundo retornou ao berço da Marselhesa, em 98, os franceses conquistaram o mundo com uma série de “estrangeiros”: africanos, armênios, caribenhos e, claro, o maestro e genial argelino Zinédine Zidane.
Estrangeiros como o uruguaio Andrade, filho de escravos, descoberto pelos franceses em 1924 como “Maravilha Negra”. Coincidências à parte, França e Uruguai se enfrentam hoje em solo africano. Estarei de olho no jogo como um cantor de tango, sofrendo. E para quem Gardel torcerá?

sábado, 5 de junho de 2010

Musas do cinema


por Luciano Melo


1. Jeanne Moreau


Jeanne Moreau tem aquela beleza acessível que se encontra andando pela calçada ou dividindo o banco do trem. Até dizem que seu rosto lembra vagamente Bette Davis e, antes que me apedrejem de louco, há uma certa dose de sensualidade nisso. Suas personagens parecem sempre estar numa ponte muito estreita entre a sobriedade e a loucura e não alimentam nenhum fetiche barato, como o estereótipo Audrey Hepburn. E ainda olha com solidão para tudo, numa deliciosa melancolia. Ainda mereço pedras?

2. Ingrid Bergman


Tudo o que disse sobre Jeanne Moreau se aplica inversamente para Ingrid Bergman. Você nunca esbarraria com a moça em canto algum. É inatingível. Seu par de olhos claros está sempre ausente da cena, como se não pertencessem a este mundo. Mas por tudo isso, é docemente angelical. E linda que dói.

3. Liv Ullmann





Escolher Liv Ullmann como uma diva do cinema é dividi-la com Ingmar Bergman. Foi sua grande paixão e inspiradora de muitos trabalhos do mestre. Possuidora de traços excêntricos de beleza, atuou talvez na maior obra cinematográfica sobre a identidade humana, Persona.


4. Catherine Deneuve





Sua interpretação em Repulsa ao Sexo, de Roman Polanski, é uma das maiores da história do cinema. Já em Bela da Tarde, de Luis Buñuel, uma noir dama de bordel. E se para a maioria das atrizes o passar dos anos é um pesadíssimo fardo, Deneuve está impecável em Dançando no Escuro e Um Filme Falado. E lindíssima.



5. Grace Kelly





Está bem, me rendo ao fetiche cinematográfico. Atuando, nunca chegou aos pés de nenhuma das atrizes citadas acima. Mas, confesso: foi o rosto mais lindo que já vi numa tela de cinema.