domingo, 11 de setembro de 2011

1982 em preto e branco

Por Ed Limas

Aos seis anos de idade eu achava que o uniforme da seleção brasileira era bege, nossa tv mandava suas imagens em preto e branco, naquela manhã de 05 de julho de 1982 descobri qual a verdadeira cor de um canarinho. Fomos assistir a fantástica seleção brasileira de 82 na casa do meu Tio Vanja, ele trabalhava na Telesp e possuia este enorme luxo chamado tv a cores.
Mesmo jovem ao extremo, eu era o orgulho da familia, sabia o nome dos principais jogadores da copa, o craque francês Platini, o camaronês Milla, o astro britânico Kevin Keegan, a genial dupla argentina Ramón Diaz e Maradona, o alemão socialista e bom de bola Breitner, etc...
Eu era uma atração na rua, a enciclopédia mirim.
Em 1982 descobri a beleza do futebol bem jogado, torci loucamente pelo escrete canarinho. Meu jogador predileto era o ponta Éder Aleixo, nas peladas na rua me arrogava no direito de me transformar no craque do galo por alguns momentos, não queria que minha mãe me levasse ao barbeiro ( naquele época homem só frequentava barbeiro, não tinha essa de cabelereiro ), pois meu cabelo era grande como o de Éder. Mas seleção de 82 tinha outras atrações, seja o gênial Falcão, seja o capitão e rei do calcanhar Sócrates, ou até mesmo goleiro calvo precocemente Waldir Perez. O brasil jogava com arte e através da minha tv válvulada e desprovida de cores, acompanhei o escrete destruir seus adversários com categoria e arte elevada às alturas.
União Soviética ( naquela época o muro de berlim estava firme e forte ), Escócia, Nova Zelândia e Argentina foram triturados... Faltava a Itália.
Naquele dia fomos à casa do meu tio, quebrei uma regra, deveria ter visto o jogo em casa, afinal em time que esta ganhando não se mexe. Que diferença faz ver a arte em preto em branco ou em cores? ( es uma questão filosófica e cinematográfica ).
Brasil e Itália foi talvez o jogo mais espetacular que uma copa proporcionou ao mundo. A Itália até em então vinha aos trancos e barrancos, porém a azurra jogou como nunca, não possuiam a arte brasileira, mas um certo Paolo Rossi tal qual a ave mitologica fenix, ressurgiu das cinzas, de um jogador corrupto e afastado dos gramados por conta de um escândalo, transformou-se em herói nacional. Já o Brasil desfilou a poesia de sempre, bastava um empate, mas como disse o poeta, a loucura é razão abstrata.
Time de Telê não se curva à obviedade do medo de levar gol, sempre busca a vitória, e o calcanhar do Doutor, a fúria de Zico e vontade de Cerezzo eram estavam lá.
A história todos conhecem, todos sabem que o gol de Falcão e suas veias saltando na comemoração mais rock n roll de todos os tempos nos emocionam até hoje, sabemos que o arqueiro Zoff da azurra escondeu de todos a bola que em uma cabeçada fulminante do zagueirão Oscar insistiu em não ultrapassar a linha do gol, todos sabemos que o samba de Júnior é mais "cool" que a tarantela de Bruno Conti.
Mas uma das maiores seleções que o mundo já viu, a exemplo de Holanda 74 e Hungria 54, foi eliminada...
Eu não chorei... Hoje lembro com carinho daquela época, as lágrimas ficaram contidas.
Deveria ter chorado por fora, pois o choro interno fica se transforma em um lago melancólico.













Poesia em preto e branco, como um filme



de Chaplin


















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