quarta-feira, 17 de março de 2010

Manifesto do Movimento "Morte ao Futebol Moderno"




*
por Luciano Melo
1. O campo. Como já se afirmou em tempos idos, o quadrilátero que abriga uma peleja futebolística nada mais é que a metáfora da condição humana, encarcerados que somos diante dos limites de sobrevivência impostos a cada um de nós. É também o espaço demarcado da existência. A medida retangular é na verdade a junção de dois quadrados que acolhem duas potências opostas, ou seja, ying/yang ou Apolo/Dionísio. Forças motoras que nutrem nossas decisões. A união destes opostos se dá pelo grande círculo central, o símbolo da perfeição e da ideia de totalidade. Para resumir a conversa, é Deus. Duvida? Em outubro de 1974, na sua partida de despedida do futebol, curiosamente contra a "Ponte" Preta, Pelé cruzou a "ponte" da divindade para a mortalidade num gesto secular: ajoelhou-se no ponto central do grande círculo com as mãos estendidas em forma de cruz. Perfeição? Deus? Pelé? Seria a representação do que, afinal?
2. A bola. O mote da disputa e da conquista de todos, representante da beleza geométrica e de toda a complexidade esférica em que repousa o símbolo da perfeita simetria, é idolatrada por pobres e oprimidos espíritos que veem na circunferência do objeto a imagem do mundo. Duvida? Lembre-se da arrebatadora cena do apocalíptico "O Grande Ditador", quando Carlitos/Hitler brinca com a bola/planeta, retorcendo-se em mil piruetas sem deixá-la tocar o chão. Seria a representação do que, afinal?
3. A paixão. Uma partida de futebol resguarda em si a plenitude do gáudio da existência humana, lançada à arena das paixões e das desilusões. Aguardamos a fração milionésima de segundos entre o olhar do craque e o toque milimétrico na bola, repousando-a no mais inatingível e imponderável espaço que ela possa encontrar. O tempo não avança, quase retrocede. Somente os gênios, os quase deuses, possuem tal feitiço. Já os deuses... Duvida? Ai de nós, estúpidos homens, quando Cupido nos escolhe. Naquele milionésimo segundo, nosso olhar atinge cada espaço milimétrico de Afrodite, lançando-nos às mais intensas labaredas da carne, à voluptuosidade pecaminosa acesa em cada poro.
*
Ai de nós, estúpidos homens. Uni-vos!

Um comentário: